Todo designer, mesmo sem perceber, toma decisões políticas diariamente. Não se trata de partidos, ideologias explícitas ou slogans militantes, mas da política profunda que vive nas escolhas de cor, hierarquia, fluxo e linguagem. Cada elemento define quem entende, quem acessa, quem participa — e, portanto, quem é incluído ou excluído de determinadas experiências. Um botão escondido, uma tipografia ilegível, uma imagem estereotipada: tudo isso molda comportamentos e relações de poder.
O design opera no espaço onde o invisível se torna determinante. Uma interface que prioriza velocidade pode beneficiar quem já está confortável com tecnologia, enquanto uma sinalização urbana mal distribuída pode dificultar a vida de quem depende dela para navegar a cidade. Designers, ao organizar informação e criar caminhos, desenham não só produtos, mas microestruturas sociais. Eles configuram fricções, facilitam decisões e influenciam modos de existir no mundo.
Do pixel ao político
Representação visual também é política. Quando marcas, campanhas e interfaces insistem em reproduzir os mesmos corpos, tons de pele, estéticas e narrativas, reforçam uma visão limitada do que é aceitável ou aspiracional. A ausência também comunica: o que não aparece torna-se imaginariamente impossível. Designers, como curadores de visibilidade, têm a responsabilidade de ampliar repertórios e desafiar padrões, evitando narrativas que perpetuam exclusões históricas.
A linguagem igualmente molda realidades. A escolha entre um texto mais técnico ou mais acolhedor, entre um rótulo estigmatizante ou neutro, pode determinar se alguém se sente digno, capaz, convidado ou rejeitado. Criar experiências mais claras, empáticas e acessíveis não é apenas uma questão de eficiência — é um compromisso ético com a democratização do entendimento.
No fim, do pixel ao político, o designer é um agente de transformação social porque lida com o tecido sensorial que organiza o cotidiano. Seu trabalho atua nos detalhes que movem comportamentos, criam oportunidades ou reforçam barreiras. Reconhecer esse poder — e tratá-lo com responsabilidade — é o que diferencia designers que apenas embelezam o mundo daqueles que o transformam.
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“Você traz a ideia, eu traduzo em visual. Vamos nessa?”
CIPRA