A publicidade e o entretenimento brasileiros há décadas constroem a imagem do país para o público interno e externo. No entanto, essa imagem é frequentemente filtrada por um grupo social bastante restrito: equipes criativas majoritariamente brancas, de classe média alta e concentradas nos grandes centros. O resultado é um Brasil retratado a partir de um único olhar — o olhar de quem raramente vivencia a pluralidade real do país.
Quando a criação é homogênea, as narrativas também se tornam. As campanhas acabam reforçando estereótipos, repetindo personagens caricatos de nordestinos, pessoas negras, habitantes da periferia, populações indígenas ou trabalhadores rurais. Não porque as equipes são mal-intencionadas, mas porque projetam visões de mundo limitadas por suas próprias experiências. Faltam vivências diversas para contar histórias diversas.
A ausência de diversidade nas agências também revela um problema estrutural: a publicidade ainda é um ambiente que exige repertórios culturais e educacionais historicamente inacessíveis para grande parte da população. Cursos caros, estágios mal remunerados e redes de contatos fechadas criam barreiras que impedem talentos periféricos, negros, indígenas e LGBTQIA+ de ocupar espaços de decisão. Assim, o “Brasil oficial” que chega às telas é muito diferente do Brasil que existe de fato.
Mas quando perspectivas diferentes entram na sala, o resultado muda. Criativos que vêm de outros territórios culturais trazem repertórios, dores, referências, sons e estéticas que ampliam o imaginário das marcas. Campanhas deixam de “falar sobre” determinados grupos e passam a falar com eles. A comunicação se torna mais sensível, mais plural e mais próxima da realidade cotidiana da maioria da população.
No final, a pergunta permanece urgente: quem dirige a imagem do Brasil? Enquanto as equipes criativas forem compostas quase exclusivamente pelos mesmos perfis, continuaremos a contar histórias incompletas. Diversificar não é apenas um gesto ético — é uma necessidade criativa e estratégica. O Brasil é múltiplo, complexo e bonito demais para ser narrado por tão poucos.