IA não é um funcionário criativo

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Icon Rodrigo Cipriano

A incorporação da inteligência artificial nos processos criativos tem sido tratada, por muitas equipes e gestores, como a chegada de um novo funcionário: rápido, incansável, barato e “criativo”. Esse equívoco revela não apenas uma incompreensão sobre o papel da IA, mas também um risco: delegar à máquina a responsabilidade pela imaginação humana. A IA não é autora — é um grande espelho que reflete padrões, tendências e vícios culturais. Quando usada como produtora direta, tende a devolver o que já existe, fortalecendo redundâncias e diminuindo a originalidade.

Nesse sentido, considerar a IA como espelho é entender seu papel de retroalimentar o que já está no mundo. Ela devolve a média, o comum, a consolidação do passado. Isso, porém, não é um defeito — é uma função poderosa quando bem empregada. Ao observar o que a IA reflete, criadores identificam zonas de repetição, clichês invisíveis e estruturas que estavam naturalizadas. A IA permite enxergar a lógica oculta por trás do que produzimos, funcionando quase como uma crítica automática do imaginário.

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Mas a IA também é ruído. Ao distorcer referências, misturar registros e gerar combinações improváveis, ela produz fragmentos imperfeitos — e é justamente essa imperfeição que abre espaço para o pensamento disruptivo. O ruído quebra a linha reta do processo criativo, embaralha categorias e aponta fissuras. Não é o resultado da IA que importa, mas o estranhamento que ela causa. Quando tratada como geradora de ruído, e não de peças finais, ela se torna uma ferramenta de provocação, capaz de desbloquear ideias adormecidas.

E talvez sua função mais potente seja atuar como fenda. A IA escancara fronteiras do que é possível, expondo limites éticos, estéticos e estratégicos. Ao tensionar comportamentos esperados, ela força equipes a repensar frameworks, metodologias e modos de produção. As fendas abertas pela IA não são soluções — são perguntas. Perguntas sobre autoria, sobre propósito, sobre o que é criação em um mundo onde máquinas simulam criatividade.

Assim, a tese é simples: a IA não deve ser tratada como mão de obra criativa, mas como dispositivo de provocação. Ela reorganiza processos ao se posicionar antes e entre as etapas, e não no fim delas. Em vez de substituir profissionais, ela amplia o campo de experimentação. Usada como espelho, ruído e fenda, a IA não entrega respostas — ela ativa o pensamento. E talvez esse seja, finalmente, o papel mais revolucionário que a tecnologia pode ter na criatividade humana.

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